quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Entrevista a Carlos Esteves - Presidente Cons.Arbitragem FPF


Enquanto presidente do Conselho de Arbitragem, Carlos Esteves considera que a criação, a todos os níveis, de melhores condições para os árbitros, terá sido uma das maiores conquistas do sector. Defende que a gestão da arbitragem através de um único conselho vai permitir uma maior ligação entre o futebol profissional e não profissional, já que “a gestão integrada destas duas vertentes da arbitragem trará melhores condições para os árbitros e seus desempenhos e, consequentemente, beneficiará o futebol em geral”. Mostra alguma relutância na profissionalização do sector, levando-o, mesmo, a dizer que não acredita numa melhor arbitragem em Portugal como consequência da sua profissionalização. Crítico quanto ao actual modelo de avaliação dos árbitros, considera os observadores como “o elo mais fraco da arbitragem”, acusando alguns de “falta de sensibilidade” e de “não estarem preparados para desempenharem esse papel”.
Nesta entrevista, o actual presidente do CA da FPF passa em revista os aspectos mais salientes do sector da Arbitragem, não se escusando a emitir a sua opinião, abalizada por quase meio século de ligação ao Desporto em geral e ao Futebol em particular.


Nome
Carlos Esteves

Data de Nascimento:
1939-06-04 (70)

Alguma vez aspirou a ser presidente do Conselho de Arbitragem da FPF?
Sinceramente, nunca esteve nos meus planos vir a desempenhar estas funções. Dado o meu percurso no dirigismo desportivo, onde fui presidente de um clube (Sport Lisboa e Águias), dirigente da Associação de Andebol de Lisboa, presidente da APAF, dirigente da A.F. de Lisboa e presidente do conselho de arbitragem da mesma associação, posso, no entanto, afirmar que me sinto preparado e motivado para, agora neste lugar, poder dar o meu contributo para melhorar a arbitragem portuguesa.

Quais foram, para si, as maiores conquistas que a Arbitragem alcançou consigo enquanto presidente do C. A.?
A minha preocupação, desde que assumi funções, centrou-se na criação de melhores condições para os árbitros. E isto a todos os níveis. Posso, neste sentido, salientar algumas medidas como: os pagamentos aos árbitros, que passaram a ser efectuados com regularidade e sem atrasos; os aumentos dos prémios que têm acontecido todas as épocas; a melhoria da qualidade dos hotéis para os árbitros nos cursos e nas suas deslocações; uma maior justiça e equidade no que se refere à avaliação dos árbitros nomeadamente com o fim dos factores de correcção dos relatórios; a transparência de processos como é exemplo a publicação do nome dos observadores ou das alterações às nomeações e o fim da existência de listagens com classificações intermédias. Ao nível da formação, que considero essencial, foram importantes as acções de formação que começaram a ser ministradas às Comissões Técnicas Distritais e a distribuição de material formativo às mesmas e aos núcleos de árbitros.
Por último, tenho de referir, como mais uma vitória do mandato anterior, a manutenção dos nove árbitros FIFA, quando se previa a sua redução, bem como a conquista de lugares como internacionais para mais um árbitro assistente, uma árbitra de futebol feminino e três árbitros de futebol de praia.

Considera o facto da arbitragem portuguesa não ter estado representada no último mundial de futebol como uma falha no seu mandato?
Não. Quando os árbitros conseguem estar presentes nas grandes competições internacionais, o mérito é deles e não meu. O oposto também tem de ser verdade. É, no entanto, importante referir que a conjuntura que se viveu nestes últimos anos não foi favorável para que os nossos árbitros pudessem conseguir “vitórias” a nível internacional.

Como observa o crescimento da variante de futsal e quais as suas consequências na gestão da Arbitragem na FPF?
O futsal tem crescido imenso nos últimos anos e acredito que irá crescer ainda muito mais num futuro a curto prazo. Naturalmente que este rápido crescimento traz desafios, nomeadamente ao nível da formação, principalmente a de base, efectuada nos conselhos de arbitragem distritais. Infelizmente, ainda não existem recursos humanos, em quantidade e qualidade, para trabalhar e desenvolver a formação dos árbitros de futsal, por forma a que esta área acompanhe o resto do crescimento desta variante.
No conselho de arbitragem da FPF, e como medida virada para a formação dos árbitros, está a ser estudada a possibilidade aumentar o quadro de árbitros da terceira categoria nacional para que, à semelhança do que se passa no futebol de onze, estes árbitros possam passar a ser nomeados para colaborar nos jogos da 1ª divisão nacional na função de cronometrista.

Qual a sua opinião acerca da nova Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto e principais consequências que esta vai trazer para a organização e gestão da Arbitragem?
Esta Lei da Bases pouco ou nada vem alterar no respeitante á gestão da arbitragem no seio da Federação. A consequência mais notória está sem dúvida ligada à problemática da Fiscalidade e suas consequências para os conselhos de arbitragem distritais que estão, já neste momento, com muitas dificuldades relacionadas com a falta de árbitros. Ora, uma vez que sem quantidade a qualidade é mais difícil de aparecer, tenho consciência que será o futebol distrital o mais prejudicado.

Concorda com a criação de um Conselho de Arbitragem único? E como “imagina” a sua organização?
Um conselho de arbitragem único irá permitir uma melhor ligação entre o que é a arbitragem do futebol profissional e não profissional. A gestão integrada destas duas vertentes da arbitragem trará melhores condições para os árbitros e seus desempenhos, o que, consequentemente, beneficiará o futebol em geral.
A minha perspectiva é que este conselho tenha um presidente que coordene o trabalho de uma comissão para a arbitragem do futebol profissional, por exemplo com seis elementos, e uma outra para o futebol profissional, que apenas necessitará de três directores.

Imagina-se como presidente deste Conselho de Arbitragem único?
Essa é uma questão que não me preocupa. Ficar ou não como presidente do Conselho de Arbitragem, não é o importante. A questão fulcral é que quem vier a desempenhar essas funções o faça com um espírito de serviço à Arbitragem e não de quaisquer outros interesses.

Defende o modelo actual de escolha dos elementos para o C. A.?
Não! Defendo que o presidente da FPF deveria indicar o presidente e vice-presidente do conselho de Arbitragem e estes escolheriam os restantes elementos da sua equipa.

Acredita na concretização de um modelo de organização profissional da Arbitragem portuguesa?
Só vendo… Digo isto por dois motivos: o primeiro está relacionado com o facto de achar que os árbitros não melhorariam os seus desempenhos apenas por serem profissionais; o segundo e mais decisivo, é o de ainda não conhecer, nem conseguir imaginar, um modelo de arbitragem profissional que seja sustentável. Isto prende-se com questões como: quem pagaria aos árbitros? Seriam todos os árbitros profissionais? E os árbitros assistentes? Como seria quando descessem de categoria? Árbitros profissionais seriam avaliados por quem? Por observadores amadores? E os dirigentes seriam também eles profissionais? Todas estas questões fazem com que neste momento não acredite numa arbitragem profissional em Portugal.

Pensa que o actual modelo de avaliação dos árbitros deve aumentar ou reduzir o “peso” do «papel» dos Observadores de Árbitros?
O modelo actual de avaliação dos árbitros está longe der ser o ideal, mas tenho de reconhecer que é o menos mau. Os observadores são, neste momento o elo mais fraco da arbitragem portuguesa. Infelizmente sinto que alguns dos nossos observadores não estão preparados para desempenharem esse papel. Existe muita falta de sensibilidade no que toca à observação do desempenho dos árbitros.

Qual a sua opinião quanto ao recurso aos meios técnicos audiovisuais na gestão dos jogos de Futebol?
No dia em que se mexer na essência popular do jogo, isto é, quando uma partida de futebol da I Liga for diferente de um jogado por jovens a nível distrital, o futebol vai começar a destruir-se. Não me parece que venham a surgir grandes alterações nesta área nos próximos tempos. Para mais, se assim fosse, em Portugal haveria um problema para a Comunicação Social pois deixaríamos de ter motivo para três jornais desportivos diários e dezenas de programas de televisão por semana a discutir as arbitragens.

Quais são os grandes objectivos deste Conselho de Arbitragem para o presente mandato?
Os nossos objectivos são muito pragmáticos. Dar condições aos árbitros para que ao longo da época possam ter desempenhos que dignifiquem o futebol.

Qual a sua opinião acerca do papel da APAf na arbitragem nacional?
Tenho de assumir que, enquanto dirigente da arbitragem, não considero que a APAF tenha tido, nos últimos anos, papel de grande relevância para a nossa arbitragem. No entanto, e falando também como associado, tenho esperança de ver a APAF ter um papel de crescente importância na arbitragem portuguesa. Mesmo discordando de posições das últimas duas direcções da APAF, se não fosse sócio de mérito, seria sempre sócio por considerar que apenas sendo sócios, os árbitros poderão exigir mais e melhor trabalho à associação que tem por obrigação defender os seus direitos.

Como vê o processo ´apito dourado´?
Trata-se de uma nódoa negra no futebol português. Espero que os culpados sejam castigados e os inocentes possam ver o seu nome limpo o mais depressa possível pois o arrastamento deste “caso” está a prejudicar a imagem da arbitragem e do futebol. Espero ainda, que os agentes da arbitragem reflictam sobre todo este processo. É altura de parar de prejudicar a arbitragem, acabar com compadrios, filhos e afilhados e começar a construir uma arbitragem digna, limpa e justa. Hoje, por causa de tudo isto, todos os que estamos ligados à arbitragem, por muito sérios que sejamos, somos sempre olhados com suspeição.

Quais as consequências que pensa que este processo terá para a nossa arbitragem?
A partir do momento em que este processo se iniciou, quase tudo se modificou. Espero que, para bem da arbitragem, as mentalidades se continuem a modificar com vista à credibilização de todo este sector e, consequentemente, do futebol.

APAF

1 comentário:

  1. PAGAMENTOS SEM ATRASOS NÃO É POSSIVEL.
    JÁ VAMOS EM NOVEMBRO NEM O MÊS DE SETEMBRO PAGARAM.......

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