
Cientes de que estão inseridas num mundo ainda visto como ´só para homens´, o que é certo é que se sentem bem no papel que desempenham, seja a apitar um jogo do distrital, das camadas jovens ou de feminino. ´É um desafio. Claro que há momentos em que é um pouco menos agradável, em que nos deparamos com algumas barreiras. Somos poucas, mas estamos presentes e a tentar que o sector feminino na arbitragem aumente, tenha mais qualidade e evolua´.
A reacção a esta incursão feminina neste desporto tem sido positiva. Clubes e jogadores parecem aceitar as ´ordens´ dadas por esta equipa. ´Há muitos clubes que nos conhecem e reagem bem, mas há outros que ainda ficam surpresos ao ver mulheres a apitar. Já aconteceu chegarmos ao local destinado à viatura da equipa de arbitragem e dizerem que não podemos estacionar ali. Quando nos identificamos, ficam a olhar à espera de ver pelo menos um homem, para aguentar a pressão do jogo´, contam.
Da parte dos atletas, notam que há maior contenção verbal e física. ´Às vezes, é mais complicado apitar os jogos de equipas femininas, pois não há tanto respeito. Vêem-se de igual para igual. Com os homens, cria-se uma relação mais distante e, ao mesmo tempo, mais calma, pois bater em mulheres seria, para eles, uma cobardia´, explicou.
Embora só estejam juntas desde o início da época, o que é certo é que as críticas têm sido mínimas e os elogios muitos. ´Mostro aos jogadores que gosto de deixar jogar, mas estou atenta ao que fazem. O propósito é o espectáculo, que o jogo decorra com normalidade e todos os jogadores possam participar´. Os elogios, agradecem, mas o objectivo é outro. ´No final, queremos sentir que demos o nosso melhor e que todos os intervenientes gostaram do trabalho´, referem. Para isso, é fundamental o trabalho de equipa e a boa condição física. ´Se estiver bem fisicamente, estarei em melhor condição para analisar os lances e a probabilidade de ser enganada será menor. Mesmo em termos de leis, preocupamo-nos em estar actualizadas com as alterações, para as aplicarmos bem nos jogos´, complementou Ana Sofia Aguiar.
Ana Sofia Aguiar também tem algumas histórias. ´Tive um episódio com um guarda-redes, a quem mostrei vermelho directo, em que, por momentos, pensei que me pudesse agredir, mas foi agarrado pelos colegas. No futebol feminino, na época passada, uma jogadora não chegou a vias de facto porque as outras a seguraram. E, há dias, uma treinadora, que expulsei, fez questão de se encostar a mim, mas as atletas puxaram-na para trás. Não são agressões, mas são instintos agressivos, sem dúvida´.
Estes episódios são geridos com muita calma. ´Sente-se um friozinho na barriga, os joelhos tremem, mas nunca recuo´, afirmou Ana Sofia Aguiar, concluindo ´Posso levar um estalo, murro ou pontapé, mas quem vai ser prejudicado é quem me bateu, pois no relatório do jogo vou escrever o que aconteceu´.
Fonte: Jornal de Notícias
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